terça-feira, 22 de novembro de 2011

Difícil não ser a favor de novos medicamentos

Difícil não ser a favor de novos medicamentos




Geralmente gestores da saúde costumam fazer muito barulho diante da perspectiva de introdução no sistema público de novos medicamentos quando eles são de mediano ou alto custo. No caso dos novos medicamentos para tratamento da hepatite C, dificilmente esse barulho encontrará algum eco junto aos usuários ou ao poder judicial.

Mário Vargas Llosa no livro "La tentación de lo imposible" coloca que o bem e o mal não são algo rigidamente separado e reconhecível, mas são caminhos que se cruzam entre si e por vezes se perdem um do outro sem que seja possível distingui-los. É isso que está acontecendo nas argumentações esdrúxulas daqueles que acham que os inibidores de proteases para tratamento da hepatite C não devem ser oferecidos pelo SUS.

Pior ainda, quando propõem que sejam oferecidos somente aos pacientes considerados mais graves e em poucos locais de atendimento, achando com isso que estão sendo magnânimos e "bonzinhos", mas devem saber "Que fácil é ser bom. O difícil é ser justo". O tratamento de pacientes em estados avançados da doença apresenta índices reduzidos de cura, assim, a proposição de limitar pela gravidade do quadro ou negar o único tratamento que pode salvar vidas é uma das proposições mais injustas e de maior desperdício de dinheiro que podem ser feitas pelo sistema público da saúde.

Cedo ou tarde o Brasil terá que encarar o desafio da hepatite C. Postergar ou empurrar o problema com a barriga custará milhares de vidas e acarretará em custos futuros muito superiores aos que hoje acreditam estar economizando.

Estudo apresentado no inicio do mês no 62º Congresso da Associação Americana para o Estudo das Doenças do Fígado, em San Francisco, pelo prestigioso Hospital Henry Ford, analisou dados de 53.796 pacientes com hepatite C, sendo 41.858 (78%) sem cirrose e idade média de 49 anos, 3.718 (7%) com cirrose compensada e idade média de 51 anos, e 8.220 (15%) com idade média de 52 anos e já em fase final da doença hepática.

Os custos mensais no sistema de saúde foram 32% maiores nos pacientes com cirrose compensada que nos pacientes sem cirrose. Já os pacientes com cirrose descompensada em fase final da doença apresentaram uma despesa 247% maior que nos pacientes sem cirrose. No calculo não foram considerados despesas caso fosse necessária a realização do transplante para evitar a morte do paciente.

Fica demonstrado que a progressão da doença ocasiona ao governo um aumento exponencial em gastos com atendimento a saúde aos infectados com hepatite C que não recebem tratamento adequado nas fases intermediarias da progressão da doença, o que é inadmissível por se tratar de uma doença que possui um tratamento com alta percentagem de cura.

No Brasil é estimado que mais de três milhões de brasileiros estejam infectados cronicamente com hepatite C. O dado dramático é que 90% desses brasileiros ainda não foram diagnosticados e desconhecem que seu fígado está evoluindo silenciosamente para a cirrose, o câncer e provavelmente a morte. De cada quatro infectados não diagnosticados e tratados, um morre em média aos 56 anos de idade.

Acredito que o sincero objetivo de todo gestor público, de todos os médicos socialmente responsáveis e das sociedades científicas deva ser o de "curar" o doente com aquilo que for mais adequado. Não receitar o melhor e mais efetivo tratamento é negar a seu irmão o caminho da salvação.

Se forem necessários recursos para introduzir no sistema público de saúde os novos medicamentos e oferecer tratamento digno a aqueles que deles necessitam para salvar sua vida, cabe a todos, sem exceção, trabalhar e lutar para conseguir o dinheiro.

(*) - Carlos Varaldo

Nenhum comentário:

Postar um comentário