segunda-feira, 13 de julho de 2009

Hepatite C,Passados 15 anos e nada mudou

01/12/2005 - Editorial publicado na Folha de São Paulo em 10 de agosto de 1992

Hepatite no tempo da AIDS

Vicente Amato Neto, 64 anos, é superintendente do Hospital das Clinicas (SP), chefe do Departamento de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo e,


Jacyr Pasternak, 52 anos, médico infectologista, é chefe de gabinete da superintendência do Hospital das Clinicas (SP) e membro do Grupo de Transplante de Medula Óssea do Hospital Albert Einstein.


Enquanto discute-se muito a AIDS e suas formas de disseminação, ou quando são analisados, com pânico, os dados de incidência de meningite meningocócica, velhas e antigas desgraças continuam rondando esquecidas.


Um bom exemplo, a propósito, é constituído pelas hepatites, no plural. Embora fale-se hepatite por vírus como se fosse uma única doença, de fato existem pelo menos cinco entidades no grupo, motivadas por agentes diferentes, que originam manifestações clinicas parecidas.


O mais comum componente é a hepatite A, enfermidade que muito raramente mata, atinge crianças mais que adultos, instala-se por via oral, através de comidas ou água contaminada e evolui para cura sem seqüelas. A designada B transmite-se pelos contatos sexuais ou com sangue, pode assumir maior gravidade, ocasiona óbitos até na fase aguda e, em 5% a 10% dos casos, deixa danos por vezes terríveis, ilustrado pela cirrose hepática, que é lesão crônica do fígado, progressiva para a falência do órgão, ou inclusive pelo câncer. A referida como C tem veiculação semelhante à da B e origina cirrose mais frequentemente. A dita D configura curiosidade biológica, pois depende de vírus que se soma ao desencadeador da hepatite B e envolve, não raramente, intensidade indesejável. Finalmente, a denominada E contamina oralmente e na Índia, segundo ficou percebido, determina piores conseqüências, inclusive fatais, em mulheres grávidas.


No Brasil, vigoram seguramente as quatro primeiras, em plena atividade, e provavelmente está por aqui também a ultima.


O que for gasto em imunização vai redundar em futuro lucro, quando não tivermos que acudir os cirróticos, as vitimas de hepatomas e os presenteados com outros horrores.


A dificuldade reside no fato de que a despesa é agora e a economia no futuro, sendo problemático convencer certos governantes a concordar com essa forma de investimento.


Decididamente, há que conscientizar a população sobre a inevitabilidade de manter acesso o conhecimento de realidade que estes distúrbios demarcam no campo médico-sanitário e cabe à comunidade exigir saneamento e a vacinação, suficientes para arrefecer a expressividade deles.


MEU COMENTÁRIO E CURIOSIDADES:

Este artigo foi publicado como editorial na Folha de São Paulo no dia 10 de agosto de 1992, há mais de 14 anos, mas poderia ser republicado hoje mudando só alguns conceitos sobre as diversas hepatites. No que concerne a inanição e ignorância por parte do governo o texto do artigo continua atualizado. A omissão na época continua igual na atualidade.Mostra o artigo o descaso do governo, o qual, não quer cuidar da população e prefere ignorar o grave problema de saúde pública que constituem as hepatites no Brasil, principalmente as hepatites B e C, doenças, que na sua forma crônica já são responsáveis por seis milhões de doentes, abandonados a própria sorte, ignorando seu estado e transmitindo diariamente a doença a outros indivíduos.


O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde informa que as mortes anuais em todo Brasil por culpa da hepatite C são de cinco por milhão, isto é, somente 900 pessoas morrem a cada ano, um número insignificante, sem importância para ser considerado um problema de saúde pública. Este é mais um dos números mentirosos que tentam esconder o problema. Somente entre os que se encontram na lista de espera para um transplante de fígado por culpa da hepatite C morrem 1.200 por ano e se estima que um número dez vezes maior morra sem sequer saber que estava infectado com a hepatite C.


Assim, podemos calcular que a cada 40 minutos um brasileiro morre por causa da hepatite C, tal qual o artigo da Folha de São Paulo já previa em 1992. Os responsáveis por ter chegado a esta situação estão lá, dirigindo ações no governo. É este um dos motivos pelo qual o Grupo Otimismo rompeu o dialogo com os gestores do Programa Nacional de Hepatites.

Carlos Varaldo

Grupo Otimismo