quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Existe futuro para os inibidores de proteases no tratamento da hepatite C?

Existe futuro para os inibidores de proteases no tratamento da hepatite C?

O tratamento do genótipo 1 da hepatite C passou a dispor de dois novos e revolucionários medicamentos, o Boceprevir e o Telaprevir, os quais chegam a duplicar a possibilidade de cura em pacientes nunca antes tratados podendo, em determinado grupo especifico de pacientes, aumentar em até 700% a possibilidade de cura para quem necessita de um retratamento.

Mas se os novos medicamentos chegam com boas notícias em relação à possibilidade de cura não podemos falar o mesmo sobre a forma de como devem ser utilizados e aos efeitos colaterais e adversos que podem acontecer, isso sem contar as limitações de sua utilização em pacientes que apresentam uma serie de outras doenças ou que fazem uso de determinados medicamentos.

Assim vemos que se por um lado revolucionam o tratamento e a possibilidade de cura, também, existe uma verdadeira e preocupante revolução na forma sobre como devem ser administrados, nos novos efeitos colaterais e adversos e na responsabilidade que o paciente passa a ter em relação à estrita aderência respeitando dosagens e horários.

Propositalmente dei a este artigo um titulo que corresponde a uma pergunta, pois será que existe futuro para os dois novos medicamentos ou eles terão vida curta? Sem duvida será uma revolução com muitos tiros e bombas, podendo acontecer que algum, ou os dois medicamentos sejam abatidos em poucos meses de vida, isto é, que as autoridades reguladoras os tirem do mercado. Vários são os fatores que poderão desencadear uma ação das autoridades resultando na retirada do mercado.

Acredito que a maioria dos médicos estará preparada e capacitada para a indicação dos medicamentos (consensos e protocolos em geral são rigorosos e o profissional de saúde deve se guiar por eles). Acredito, também, que receberam a correspondente atualização médica por parte das sociedades científicas e dos laboratórios.

Estou na torcida para que os novos medicamentos possam ser efetivos e úteis para a maioria dos infectados e que curem a maioria dos pacientes, mas existem duas situações que devemos prestar muita atenção, que muito me preocupam:

1 - O que acontecerá se os efeitos adversos e colaterais chegam a provocar uma elevada interrupção de tratamentos, resultando em percentuais de cura que não confirmem os alcançados nos ensaios clínicos realizados para conseguir a autorização de comercialização?

2 - Ou, nem pensar, se os efeitos adversos graves ocasionam algumas mortes?

São duas situações possíveis de acontecer, com muitas mais possibilidades do que possa imaginar qualquer departamento de marketing dos laboratórios.

É nesse ponto que mora o perigo. No “marketing”, que em alguns casos chega a criar expectativas e esperanças que colocam os novos medicamentos como milagrosos, como a salvação da pátria para pacientes e até para médicos.

De nada vai adiantar qualquer investimento em pesquisa, em divulgação, em capacitação médica continuada se no dia a dia do uso dos novos medicamentos começarem a aparecer problemas adversos difíceis ou impossíveis de manejar. Já dá para perceber que cada medicamento apresenta efeitos adversos muito diferentes e alguns deles os especialistas atuais em hepatites não possuem maior experiência. Efeitos tais que podem ir aparecendo devagar ou, que podem surgir de forma muito rápida e que os cuidados imediatos e certeiros devem ser aplicados em poucas horas.

Cabe em momentos assim que os departamentos médicos dos laboratórios e a própria diretoria dos fabricantes avaliem as ações de marketing e, devem pensar na melhor forma de capacitar profissionais da saúde, inclusive no nível de pessoal da enfermagem para saber reconhecer e diagnosticar os efeitos adversos.

Cabe ainda, com muita mais ênfase, educar e capacitar o paciente para que tenha total adesão às dosagens e horários dos medicamentos, a forma como eles devem ser ingeridos, a qual a refeição que deve acompanhar a ingestão dos inibidores de proteases e, a reconhecer qualquer aparecimento de algum sintoma adverso.

Não quero ser com este artigo um pássaro de mau augúrio, mas ao saber que nos Estados Unidos e na Europa aconteceram alguns (poucos) casos de morte de pacientes em tratamento, considero que por isso é necessário alertar. Em relação às causas das mortes ainda não podem ser todas elas atribuídas aos novos medicamentos. Estudos estão em andamento e brevemente saberemos os motivos.

Recebo e-mails de médicos e profissionais de saúde me felicitando pela divulgação constante de artigos sobre os inibidores de proteases e por ter criado uma seção dedicada a eles na nossa página, tentando explicar da melhor forma possível sobre como devem ser utilizados e sobre as limitações e problemas que ocasionam. Muito me orgulha tal reconhecimento, mas lembrem de que uma andorinha não faz verão. É necessário que todos, governo, sociedades médicas, fabricantes e associações de pacientes passem de forma imediata preparar e capacitar todos os que estarão envolvidos: médicos e pacientes. Mas vejo com preocupação que muito pouco está sendo feito.

Carlos Varaldo

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