quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Estudo do governo do Canadá comprova a progressão do dano hepático na hepatite C para poder indenizar quem recebeu transfusão de sangue‏

Estudo do governo do Canadá comprova a progressão do dano hepático na hepatite C para poder indenizar quem recebeu transfusão de sangue


No ano de 1998 o governo do Canadá criou um fundo de 1,1 bilhões de dólares para compensar (indenizar) pessoas que receberam transfusões de sangue entre os anos de 1986 e 1990 e resultaram infectadas com o vírus da hepatite C. Um estudo foi solicitado para determinar qual o valor da indenização a ser paga a cada infectado.

Este estudo acaba de ser publicado no “Journal of Viral Hepatitis” e por meio dele é possível se constatar o crime de omissão que foi cometido por alguns governos ao não se alertar a população sobre a possibilidade de estar infectado com a hepatite C e a necessidade de procurar realizar o teste de detecção após o descobrimento da hepatite C, vinte anos atrás.

Vários países já assumiram o erro cometido e estão compensando financeiramente aqueles que por falta de informação não foram alertados sobre a necessidade de realizar o teste das hepatites, com o qual, se diagnosticados nas fases iniciais da doença não teriam chegado a danos irreversíveis na sua saúde, alguns inclusive vindos a falecer. As primeiras decisões de ações abertas no Brasil também estão condenando o governo federal pelo crime de omissão na hepatite C obrigando a pagar uma indenização pelo dano causado a saúde.

No Brasil existem dois argumentos irrefutáveis para a decisão dos Juízes favoráveis aos pacientes com elevada fibrose ou cirrose, um deles é que nem sequer os indivíduos que receberam transfusão de sangue, o qual consta nos prontuários médicos dos hospitais, foram convocados para realizar o teste, outro é que demorou 13 anos para existir um programa nacional de hepatites virais, mas que até o momento, por falta de divulgação e campanhas, somente conseguiu diagnosticar três por cento dos mais de três milhões de infectados, oferecendo tratamento a aproximadamente dez mil a cada ano.

O estudo realizado no Canadá foi realizado por métodos epidemiológicos para estimar o prognostico dos infectados aplicando o reconhecido método “Markov” que estima as probabilidades.

Foram identificados pelos prontuários médicos um total de 5.004 indivíduos que receberam transfusão de sangue entre os anos de 1986 e 1990, infectados com hepatite C, incluídos para definir a distribuição anual dos estágios da fibrose, considerando intervalos entre F0-F1; F1-F2; F2-F3 e F3-F4.

Como a ação indenizatória foi aberta por infectados hemofílicos, o estudo comparou a progressão da doença em indivíduos com hemofilia e indivíduos não-hemofilicos, confirmando que existem diferenças na progressão da doença nesse grupo de pacientes.

Após 20 anos da transfusão de sangue recebida por 5.004 indivíduos comprovadamente infectados, 3.773 permaneciam vivos. Os pacientes falecidos foram excluídos por ser impossível de avaliar o estado do fígado. A exclusão dos mortos pode resultar em taxas menores do risco da progressão da doença.

Passados 20 anos após a transfusão, entre os indivíduos hemofílicos infectados com hepatite C, foi encontrado que 10% dos hemofílicos tinham chegado a um quadro de cirrose e 0,5% se encontravam com câncer no fígado (hepatocarcinoma).

Entre os indivíduos hemofílicos co-infectados com HIV/AIDS e hepatite C o risco de chegar à cirrose após 20 anos da transfusão chega aos 37%, o risco de câncer no fígado e de 12% e, a morte atinge a 19% dos co-infectados.

Já entre os indivíduos não hemofílicos infectados somente com a hepatite C foi encontrado que após 20 anos de receber a transfusão o risco da cirrose e de 23%, o risco de câncer de 7% e o de morte pelas conseqüências da hepatite C de 11%. Números realmente assustadores.

Outros estudos já tinham observado que indivíduos hemofílicos apresentam uma progressão mais lenta no dano histológico, mas não por isso menos preocupante.

O estudo canadense da progressão da hepatite C em indivíduos infectados numa transfusão de sangue, situação mais factível de se determinar o momento exato em que aconteceu a infecção, serve não somente para embaçar o judiciário nas ações indenizatórias pela omissão dos governos, como também é um recurso inestimável para estudar a historia natural da progressão da hepatite C.

Os resultados comprovados pelo estudo devem servir de alerta não somente a quem já está infectado com a hepatite C, mas deve servir para alertar todo e qualquer individuo que ainda não sabe do perigo que está correndo caso esteja infectado, motivo pelo qual todos, sem exceção, devem considerar a possibilidade de solicitar o teste de detecção das hepatites por ocasião da próxima consulta médica.

Também é muito importante que grupos de pacientes de outras doenças, onde existem maiores riscos em relação à hepatite C, acordem de vez por todas para o problema e se estruturem para exigir do governo a realização dos testes diagnósticos e a disponibilização de tratamentos. Entre indivíduos HIV positivos até 30% podem estar co-infectados com a hepatite, entre os renais crônicos podem ser de 7 até 20% conforme diferentes estimativas, entre os hemofílicos o percentual pode chegar aos 70% e, assim, podemos ir entre os talassemicos, os politransfundidos, os usuários de drogas e os portadores de anemia falciforme, entre muitos outros.


FONTE: Journal of Viral Hepatitis - Volume 16 Issue 11, Pages 802 – 813 - Prognosis of hepatitis C virus-infected Canadian post-transfusion compensation claimant cohort - H.-H. Thein 1,2 , Q. Yi 3 , E. J. Heathcote 4 and M. D. Krahn 1,2,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário